terça-feira, 24 de agosto de 2010

House e o dilema da felicidade

Vivemos dias em que os parques temáticos, os jogos esportivos, a internet, os estilos musicais e a literatura proliferaram de maneira assustadora, consequentemente, era de se esperar que as pessoas fossem mais felizes. No entanto, muitas pessoas continuam tristes, amarguradas e infelizes. Essa constatação nos leva a seguinte questão: Por que diante de tanto entretenimento e informações, as pessoas continuam infelizes? Por que as pessoas estão tão solitárias, não obstante estarem cercadas de pessoas? Posso ser feliz abrindo mão de Deus e de sua direção para a minha vida?

Este artigo tem como foco avaliar a infelicidade que brota na vida humana a partir da personagem de Dr. Gregory House, interpretado pelo ator inglês, Hugh Laurie e apresentar como contraponto para a infelicidade o ensino de Jesus para alcançarmos – sentido, significado e propósito para a vida.

House é o tipo de personagem com quem muitas pessoas se identificam. Podemos dizer que Dr. House é um “homem livre por fora, mas prisioneiro no território da emoção” como fora dito certa feita pelo Psicólogo Augusto Cury.

House é um profissional competente que mascara as suas inquietações depressivas e emocionais utilizando os seguintes artifícios: agressividade, introspecção, distanciamento de relacionamentos. Esse comportamento rude, desconexo com a realidade interior, o levou a automedicar-se fazendo uso de uma substância que fornece sensação de euforia, no entanto, essa atitude só alivia o sintoma, e não a causa.

Muitas vidas se encaixam no que foi descrito pelo Ed René: “Por baixo do pano escuro da noite, quando as luzes se apagam e restam apenas os labirintos da mente como trilha para o encontro com o descanso, muita gente repousa infeliz. Sua sorte, ou infortúnio, é que durante o dia quase ninguém percebe; disfarçam bem ou convivem com gente igualmente ocupada em disfarçar [...].”

Ed René chama a atenção para o fato de as pessoas estarem infelizes e mascarem essa infelicidade. E, à semelhança de House, mascaram a sua infelicidade, decorrente de uma vida vazia e sem sentido, utilizando: drogas, envolvendo-se em vários relacionamentos, tornando-se escravas do trabalho, prostituindo-se, porém, nada que possa utilizar atenua ou resolve, pelo contrário, cada vez mais a pessoa se afunda aumentando sua infelicidade. Por conta da acidez gerada pela infelicidade, tornam-se profetas da canção A Felicidade de Tom Jobim e saem por aí cantarolando: “A felicidade é como a pluma; Que o vento vai levando pelo ar; Voa tão leve; Mas tem a vida breve; Precisa que haja vento sem parar. Tristeza não tem fim, felicidade sim.”

O humor deprimido, a ansiedade, a falta de sentido existencial e a infelicidade levaram House procurar ajuda. Porém, em uma das conversas com o seu psicólogo, House fez a seguinte declaração: “Quando vim até você, disse que queria ser feliz. (...) e ao invés disso estou infeliz. E ele conclui o diálogo ressaltando: “Seja lá qual for a resposta [para a felicidade], você não a tem.”

No livro Em Busca de Sentido, o Psicólogo Victor E. Frankl faz a seguinte observação: “[...] a principal preocupação da pessoa humana não consiste em obter prazer ou evitar a dor, mas antes em ver sentido em sua vida.” Logo, a felicidade tomará corpo e concretude, quando o ser humano conseguir viver uma vida com sentido, significado e propósito.

No entanto, House queria obter sentido, significado e propósito para a sua vida abolindo dela, Deus. Para ser feliz, o ser humano, necessariamente, precisa buscar respostas para as suas indagações existenciais na sua matriz, ou seja, Deus. Jesus é aquele que reverbera Deus, portanto, nEle fica evidente o caminho que o ser humano deve trilhar para obter sentido, significado e propósito. São eles:

Arrependimento, comunhão com Deus e comunhão com o próximo

O arrependimento é o resultado do encontro com o divino mediante a pessoa de Jesus. Neste encontro, eu sou transformado, tomo consciência da minha mazela, malvadeza, mentira, atrocidade, egoísmo, valorização de coisas em vez de pessoas, uma vida centrada no Eu e não em Deus. Neste encontro, eu reconheço que preciso mudar de direção e viver a partir dos ditames dEle, ensinados e vivenciados por Jesus. Na pessoa de Jesus fica visível quão distante de Deus o ser humano está e por causa disso, Jesus proferiu: “Arrependam-se dos seus pecados porque o Reino do Céu está perto!.”

Comunhão com Deus é o resultado direto de uma vida de arrependimento. Portanto, é na comunhão com Deus mediante a pessoa de Jesus que a minha vida ganhará - sentido, significado e propósito. Nessa comunhão, eu deixo de ser autônomo e passo a ser guiado pelo autor da vida. Deixo de buscar satisfação, sentido e significado em uma vida egocêntrica, nas drogas e em relacionamentos descompromissados, para me deleitar em Deus. Na comunhão com Deus, não preciso usar máscaras para cobrir as minhas aflições, indagações e meu coração dilacerado pelas agruras da vida, pois Ele é meu pai.

Comunhão com o próximo será o resultado direto de uma vida que está em comunhão com Deus mediante arrependimento. Já não verei o próximo como matéria prima, que deve ser explorado e espoliado. Quando eu compreendo o que Deus me ensina na pessoa de Jesus meus valores mudam, eu sou transformado, deixo de ser narcisista, deixo de amar as coisas e usar as pessoas. Compartilho as coisas na medida do possível, me torno uma pessoa solidária, não me torno insensível diante da calamidade que assola o meu próximo.

Caminhar com Jesus é trilhar pelo viés do arrependimento, da comunhão com Deus e o próximo. Pensar que posso ser pleno, abrindo mão do meu criador é puro engodo. Enquanto o ser humano abrir mão de viver conforme a vontade da sua matriz que é Deus, ele não apenas deixará de obter – sentido, significado e propósito, como expressará muitas vezes, nem que seja no recôndito da sua mente: Tristeza não tem fim, felicidade sim.

Pr. Fernando G. Dias

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Em que “Deus” os brasileiros acreditam?

O presente artigo tem como escopo avaliar a percepção humana de como Deus é, e com isto, trazer a baila como algumas pessoas estão imaginando e vivenciando este “Deus”. No entanto, para elucidar de maneira mais clara a nossa percepção de Deus, usarei como guia aquele que pode discorrer sobre Ele como nenhum outro é capaz, a saber: Jesus Cristo. Ele é o único que pode nos dizer se a nossa percepção acerca de Deus está correta.

A Revista Veja (nº 50, 19/12/2001) publicou uma matéria sobre a espiritualidade do povo brasileiro, fazendo o seguinte destaque: Um Povo que acredita. A Revista encomendou uma pesquisa ao instituto Vox Populi, onde as pessoas deveriam responder algumas perguntas, dentre as quais, encontrava-se a seguinte: Você acredita em Deus?. Noventa e nove por cento dos entrevistados disseram que sim.

Contudo, ao observar nossa sociedade e notar tanta desigualdade, mendicância, latrocínio, mentira, prostituição, descaso dos políticos, precariedade nos hospitais públicos, precariedade na educação, vazios existenciais, depressão crescendo de maneira alarmante, famílias que não se toleram, pais matando filhos, filhos matando seus pais e toda sorte de atrocidade, algumas perguntas surgem: (1) A crença em Deus tem tornado o ser humano melhor?; (2) As pessoas estão mais humanas a partir dessa crença?; (3) A crença em Deus tem refletido melhoria nos relacionamentos?; (4) A falta de sentido existencial, está sendo preenchida por causa dessa crença?

O que eu acredito me direciona, me conduz e me indica o caminho que eu percorro ou vou percorrer, logo, o “Deus” que for cunhado pela minha percepção conduzirá a minha vida. Creio que muitas pessoas, responderam sim a pergunta da pesquisa crendo no seguinte “Deus”:

O “Deus” permissivo – este é o tipo de “Deus” que respalda as minhas atrocidades, as minhas safadezas, as minhas mentiras descabidas, as minhas puladas de cerca, e por esse “Deus” eu vivo e sou direcionado.

O “Deus” amor – este tipo de “Deus” é aquele onde eu posso fazer todas as coisas e no final de tudo, sairei ileso sem ter que arcar com as consequências dos meus atos, afinal de contas, ele é amor. Esse “Deus” é desprovido de justiça.

O “Deus” contemplação – este é aquele que tem mais o que fazer, e por isso apenas observa o meu caminhar. Não têm tempo para ouvir minhas queixas, meus anseios, minhas indagações existenciais. É um “Deus” distante da minha realidade, ele está “lá” e não “aqui”, logo, ele é apenas transcendente e não imanente.

O “Deus” barganha – esse é aquele que só me abençoa se eu tiver algo para lhe oferecer. Para me relacionar com este “Deus”, eu tenho que: subir a escadaria da penha, tomar banho de sal grosso, pagar promessa. Ainda assim, posso não ser ouvido. Esse “Deus” é desprovido de graça, é melindroso e sem compaixão. Fica irado se eu não tiver nada para lhe oferecer e, por conta disso, não me abençoa.

Toda tentativa humana de querer “definir” Deus a partir da razão, falhará. Ele é o Deus abscôndito, ou seja, que está escondido, ou nas palavras de Karl Barth “o completamente outro”. Portanto, ou Deus se revela, ou jamais perceberemos de fato quem Ele é. Ou Ele se mostra, ou ficaremos elucubrando sobre Ele. Quanto à questão da revelação Alister E. McGrath disse o seguinte: “A noção de revelação coloca um desafio direto à autonomia humana. Afirma que os seres humanos são perfeitamente capazes de construir suas ideias sobre Deus – mas que essas ideias requerem ser suplementadas, desafiadas e corrigidas à luz do que Deus realmente é. Afirmar a prioridade da revelação é, em última análise, afirmar que Deus é a autoridade suprema sobre Deus [...].”

Deus pode ser percebido por intermédio das coisas criadas, como bem descreveu o salmista: “O céu anuncia a glória de Deus e nos mostra aquilo que as suas mãos fizeram”. No entanto, essa revelação é incompleta para se obter um conhecimento mais acurado de Deus. Ele se mostra de maneira clara e límpida na vida e obra de Jesus Cristo, ou nas palavras de Paulo: “Jesus [...] é a revelação visível do Deus invisível...” e seguindo na mesma direção, o autor da carta aos Hebreus disse que Jesus é: “... a expressão exata do ser de Deus.” Portanto, Jesus é a personificação e a auto-revelação de Deus. Ele é o único na história que disse com toda autoridade “eu e o pai somos um (João 10:30)”, “...Quem me vê vê também o Pai (João 14:9)”, “ninguém sabe quem é o Pai, a não ser o Filho e também aqueles a quem o Filho quiser mostrar quem o Pai é. (Lucas 10.22).

Em Jesus, Deus tem um rosto. Como bem descreve Caio Fábio: “Jesus [...] é Deus com cara e carne de homem, é homem com natureza e coração de Deus.”

Em Jesus, Deus demonstra sentimento, chora, fica alegre, sente fome, solidariza com a dor e a miséria humana, é imanente, é gracioso, é todo amor, mas também é todo justiça, tem caráter, é moral, é verdadeiro e abomina a mentira, abençoa independente de quem seja, não aceita barganha, dá liberdade ao ser humano, porém, cobra dele responsabilidade pelos seus atos, ressignifica a peregrinação humana enchendo-a de sentido e propósito, denuncia a injustiça, rechaça a soberba, exalta os humildes. Nele, Deus ganha concretude deixando de ser o Deus de “lá”, tornando-se o Emanuel, ou seja, Deus conosco.

Eu não sei em que “Deus” você crê. Mas eu creio no Deus que se revela em Jesus de Nazaré. Em Jesus, minha vida é direcionada, guiada e modificada através da comunhão. NEle minha vida ganha sentido, significado e propósito. Não deixo a vida me levar, como ressalta a música do Zeca Pagodinho, pois sou levado pelo autor da vida e conduzido “às águas tranqüilas.”

Esse é o Deus que eu acredito, e você? 

Pr. Fernando G. Dias

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Nos bastidores da vida humana.

O presente artigo tem como objetivo refletir sobre as mazelas humanas olhando-as sobre a ótica do que foi ensinado por Cristo em Mateus 11: 28 – 30.

“Não existe testemunha tão terrível, nem acusador tão implacável quanto a consciência que mora no coração de cada homem.” Políbio - historiador da Grécia Antiga

As palavras de Políbio nos arremetem invariavelmente a nossa sociedade. Quantas pessoas mostram-se felizes para o amigo, esposo, esposa, filhos e familiares, mas no recôndito da alma, estão tristes, feridas e esmigalhadas pelo passado e presente, que solapam a alegria ou as lembranças que lhe amargam a alma roubando a doçura do viver. Muitas delas são pessoas úteis em nossa sociedade e que promovem muitas vezes coisas boas, no entanto, estão amargando vazios indescritíveis em suas almas. Ou como bem descreveu Ed René: “Há muita gente útil e infeliz. Pessoas admiráveis exceto para si mesmas, as quais, à noite, colocam a cabeça no travesseiro e tem coragem de admitir que os benefícios que promovem na sociedade não alcançam o cônjuge ferido na mesma cama, nem o filho massacrado no quarto ao lado [...].”

Vários fatores contribuem para que as palavras proferidas pelo Ed René ganhem veracidade. Alguns fatores são:

Muitas pessoas possuem pais viciados ou alcoólatras; muitas pessoas foram abusadas emocionalmente e muitas delas crescem num lar onde os pais não são amorosos.

Diante desses fatos, não fica difícil compreender tanta infelicidade nas pessoas. Quantos seres humanos são/foram rejeitados pelos cônjuges; famílias que não conseguem dialogar por estarem em conflito constante gerando mágoas mútuas. Com muita propriedade, o psiquiatra Augusto Cury fez a seguinte observação: “Infelizmente, a família moderna tem se tornado um grupo de estranhos. Pais e filhos respiram o mesmo ar, se alimentam da mesma comida, mas não desenvolvem a arte de ouvir e dialogar. Não tem havido aprendizado mútuo das lições da vida. Eles estão próximos fisicamente, mas distantes interiormente.”

A família pós-moderna é uma família fragmentada nas emoções. Relações são quebradas, feridas são abertas e quando as pessoas se dão conta já estão na bancarrota emocional e espiritual. Não é por acaso, que nas livrarias, os livros de auto-ajuda são bastante vendidos, cada um com uma promessa de alívio. São livros que ensinam como num passe de mágica - faz isso e você obterá isto; aja assim que você será feliz.

Tudo se caracteriza na literatura de auto-ajuda pela seguinte diretriz: pense corretamente, construa hábitos saudáveis e aprenda a dominar-se, em outras palavras, a literatura de auto-ajuda tem por objetivo tornar fácil aquilo que para mim é difícil. Concordo com as palavras do Ed René quando ele destaca que estas coisas “mascara as tensões da alma e esconde a infelicidade ontológica que toda gente carrega no peito até descansar em Deus.”

Se a complexidade da vida humana se resumisse apenas num faz isto e aja assim, a humanidade seria bem mais feliz e as agruras da vida seriam extirpadas como em um passe de mágica. Fato é, que ao olharmos para a sociedade não obstante as promessas dos livros de auto-ajuda, algumas pessoas continuam infelizes, embora rodeadas de pessoas mais solitárias no seu mundo interior.

Bem disse o filósofo Blaise Pascal: “Somente Deus tem o tamanho exato do vazio que existe dentro de nós”. Nenhum ser humano viajou com tanta propriedade e leveza para dentro da emoção humana como Jesus Cristo. Ele foi à semelhança de nós seres humanos – humilhado, dilacerado fisicamente e emocionalmente, no entanto, Ele soube vencer a acidez que a vida muitas vezes nos proporciona deixando-nos um legado, e por conta disso, pode dizer as seguintes palavras:

“Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.”

Diante do que Jesus disse podemos tirar as seguintes lições para as nossas vidas.

a) Um convite especial – “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados...”
A humanidade tem recebido vários convites com promessas de ajuda, mas os resultados parecem muito ínfimos. Para aqueles que se encontram “cansados” e “sobrecarregados” nas suas emoções e que já desistiram de viver, Jesus diz – “vinde a mim”. Não é mais um prometendo algo, é o filho de Deus que passou pela aridez da vida e sabe muito bem o que é sofrer.

b) Uma promessa –“...e eu vos aliviarei...e achareis descanso para a vossa alma..”
Nessa promessa de Jesus, esta embutida o recomeçar de uma vida com significado e propósito. Jesus chama cada ser humano para ressignificar as suas vidas a partir do conhecimento do pai. Penso que para sermos mais felizes, solidários e seres humanos na essência da palavra, precisamos vivenciar os ensinos de Jesus. Jesus não se apresenta como mais um que promete ou como um pseudo-alívio. Ele é o remédio que a humanidade ferida precisa.

Diante das intempéries, das mazelas, das tristezas e falta de significado para a vida, você pode aceitar o convite de Jesus ou rejeitá-lo e com isto, você poderá continuar sorrindo para os amigos, esposo, esposa e filhos, fingindo que está tudo bem, no entanto, as palavras de Políbio ecoaram na sua mente dia a dia.

“Não existe testemunha tão terrível, nem acusador tão implacável quanto a consciência que mora no coração de cada homem.”

Pr. Fernando G. Dias

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Se Deus “morreu”, o ser humano também


Desde a idade média até os dias atuais, muitas mudanças ocorreram nas civilizações e algumas dessas mudanças trouxeram benefícios para o ser humano pós-moderno, outras nem tanto. Dentre as mudanças ocorridas no ser humano, gostaria de destacar a mudança de referencial, isto é, de Deus para o homem. Simultaneamente, essa mudança, alterou a sua visão de certo e errado, moral e imoral, verdade e mentira. Diante desta nova realidade algumas perguntas emergem: O ser humano pós-moderno está mais feliz?; Ao fazer uso somente da razão para alcançar respostas acerca da vida e os mistérios que a cercam, o resultado tem sido satisfatório?; Ao utilizar a razão como referencial o ser humano está conseguindo saciar a sua peregrinação existencial?.

Na idade média, no topo da “hierarquia” estava Deus e como representante dEle encontrava-se a Igreja Católica Apostólica Romana, logo, o que ela proferia era acolhido como verdade absoluta e assim a sociedade era construída a partir dos paradigmas religiosos. No entanto, homens como Copérnico, Kepler e Galileu colocaram em xeque a representatividade da Igreja quando questionaram algumas teorias que a mesma havia estabelecido como veraz. Por exemplo: A Igreja dizia que a terra era plana e que o sol girava em torno da Terra, e estes homens provaram pelo método científico que a Igreja estava errada e a partir desta descoberta as pessoas começaram a questionar a Igreja, ou seja, se ela errou acerca do universo, sobre mais o que ela poderia estar errada.

A partir deste momento ocorre uma ruptura e um novo paradigma emerge na sociedade conhecido como – Modernidade. Nesse novo modelo, quem dá as cartas é a ciência e consequentemente Deus não é mais “necessário” em virtude do desenvolvimento científico. Neste período, houve uma virada “antropológica”, ou seja, agora não é mais Deus quem está no centro estabelecendo a verdade e sim o homem mediante a razão ou nas palavras do filósofo sofista Protágoras: “O homem é a medida de todas as coisas...”.

Pensava-se que, com as descobertas estabelecidas pela ciência, o ser humano seria mais feliz e realizado em todas as áreas, como bem descreveu Stanley J. Grenz: “os arquitetos da modernidade procuraram projetar uma sociedade humana perfeita em que a paz, a justiça e o amor reinariam”. Porém, não foi muito bem isso que ocorreu, ou, nas palavras do economista Eduardo Giannetti: “Entre as crenças que povoavam a imaginação e a visão de futuro iluminista, uma em particular revelou-se problemática: a noção de que os avanços da ciência, da técnica e da razão [...] atenderiam aos anseios de felicidade, bem-estar subjetivo e realização existencial dos homens. Sob este aspecto, seria difícil sustentar que o presente esteja à altura do amanhã prometido de ontem.”

O ser humano moderno, ao ver fracassar o projeto doravente prometido pela ciência, inaugura uma nova era denominada de Pós-Modernismo ou Modernidade tardia para alguns. Neste novo modo de pensar, não haveria mais espaço para Deus e nem para a ciência. A esperança fora substituída pela desesperança. Algumas marcas dessa nova alvorada de se viver a vida são: Não existe verdade absoluta, logo, tudo é relativo; cada um constrói a sua verdade; tolerância para com as diferenças. Não existe um centro unificador como existia na idade média e na modernidade.

Em face das mudanças ocorridas desde a idade média até a pós-modernidade, cabe bem a análise feita pelo filósofo Nicola Abbagnano: “Cada época vive de uma tradição e de uma herança cultural das quais fazem parte os valores fundamentais que inspiram as suas atitudes.”

Apesar de ter ocorrido mudanças na maneira de pensar das pessoas de um período para o outro, contudo, creio que o ser humano pós-moderno trouxe como herança do Iluminismo e da Renascença a tentativa de se vivenciar a razão como aferidor de todas as coisas. A mulher e o homem pós-moderno ainda continuam no centro, fazendo uso da razão para discernir o que é certo e o que é errado, verdade e mentira, moral e imoral. Por exemplo: matar alguém que cometeu um assassinato é errado dependendo do que o assassino fez; mentir é incorreto depende da visão de cada um.

Ao deixar de lado Deus, ou como proferiu Friedrich Nietzsche “Deus está morto” e substituí-lo pela razão humana, o ser humano também morreu. A centralização na razão humana e na sua essência não pode e nem poderia trazer valores inabaláveis. Ao banir Deus da sua história, o ser humano renegou aquele que dá sentido a mesma, pois Ele é o seu criador. Ao tornar-se lei para si mesmo e abrir mão da direção de Deus para a sua vida, acontece o que foi ensinado de maneira assertiva pelo apóstolo Paulo a Timóteo: “Lembre disto: nos últimos dias haverá tempos difíceis. Pois muitos serão egoístas, avarentos, orgulhosos, vaidosos, xingadores, ingratos, desobedientes aos seus pais [...]. Não terão amor pelos outros e serão duros, caluniadores, incapazes de se controlarem, violentos e inimigos do bem. Serão traidores, atrevidos e cheios de orgulho. Amarão mais os prazeres do que a Deus [...].1ª Timóteo 3. 1-4 ”

As palavras proferidas por Paulo é exatamente o que ocorre nos dias atuais e tal constatação levou o historiador francês George Duby a seguinte observação: “Houve modificações materiais, mas as condições morais não mudaram. Os indivíduos continuam selvagens e cruéis.” e C. S. Lewis diz o seguinte acerca da tentativa humana de querer bastar-se a si mesmo: “Dessa tentativa, que não pode dar certo, vem quase tudo o que chamamos de história humana: o dinheiro, a miséria, a ambição, a guerra, a prostituição, as classes, os impérios, a escravidão - a longa e terrível história da tentativa do homem de descobrir a felicidade em outra coisa que não Deus.”

Concluindo este artigo, farei uso das palavras de C. S. Lewis “[...] Deus nos criou como um homem inventa uma máquina. Um carro é feito para ser movido a gasolina. Deus concebeu a máquina humana para ser movida por ele mesmo. O próprio Deus é o combustível que nosso espírito deve queimar, ou o alimento do qual deve se alimentar. Não existe outro combustível, outro alimento. [...]Deus não pode nos dar uma paz e uma felicidade distintas dele mesmo, porque fora dele elas não se encontram. Tal coisa não existe.”

As expressões “queimar o combustível” e “o alimento do qual se deve alimentar” significa que devemos viver de acordo com os ditames de Deus, no entanto, se Deus “morreu”, o ser humano também. 

O que você pensa sobre este assunto? Qual a sua opinião?

Pr. Fernando G. Dias