terça-feira, 30 de novembro de 2010

Stress e espiritualidade

A vida e a sociedade estão muito dinâmicas, as informações que temos estão cada vez mais rápidas com o advento da tecnologia. Concomitantemente, nessa dinâmica vivencial encontra-se o ser humano. Como fruto das mudanças ocorridas, o ser humano acaba experimentando situações de cobranças, pressão de todos os lados, situações inesperadas que acabam gerando no indivíduo o chamado stress, prejudicando a saúde mental, emocional e física. O Stress é apontado como o mal do século, definido pela Organização Mundial de Saúde como “Epidemia Global”, o stress atinge nove em cada dez habitantes do planeta.

O Stress é uma realidade, logo, algumas questões devem emergir para a nossa reflexão: (1) O que é o stress? (2) Quais os sintomas do stress? (4) Como o caminho da espiritualidade cristã pode nos ajudar amortiçar seus efeitos?

O presente artigo compreende que muitas vezes o uso de remédios são necessários para o restabelecimento daqueles que são acometido pelo stress, porém, o mesmo objetiva apresentar a espiritualidade cristã como alternativa para o equilíbrio do ser humano, tendo em vista que somos mais do que um ser bio-psíquico.

Stress(Fonte: IBAB) é o desequilíbrio do corpo/mente, resultante da tentativa de adaptação às pressões internas e externas.

Sintomas do stress (Fonte: IBAB e Revista Veja nº 1556, 22/07/1998), ou seja, como nosso corpo e mente reagem diante de uma situação de ameaça.

No corpo, o stress é percebido através de dores musculares, transpiração, dores de cabeça, sensação de desmaio iminente, sensação de sufocamento, dor de estômago, náusea, vômito, intestino solto, constipação, freqüência e urgência para urinar, perda de interesse no sexo, cansaço, calafrios ou tremores, perda ou ganho de peso, atenção exagerada aos batimentos cardíacos. 

O stress afeta também as emoções porque o estressado fica vulnerável ao pânico, ansiedade profunda, depressão, angústia, irritabilidade, inquietação, incapacidade de relaxar e desejos intensos de fuga.

O stress afeta a vontade, porque este desequilíbrio emocional e orgânico faz com que o estressado se renda às possíveis soluções convenientes e menos custosas, fazendo inclusive com que ele perca a capacidade de reagir na direção contrária aos fatores de desequilíbrio. (...) Os sintomas desta perda de controle sobre si mesmo são: problemas para dormir, nervosismo, tremores infundados, choro descontrolado.

A mente também sofre com o stress. Uma pessoa estressada vive ansiosa, com dificuldade de concentração, dificuldades com a memória e mergulhada em devaneios e abstrações.

Diante dos sintomas apresentados acima, chegamos ao ponto central do artigo, isto é: Como o caminho da espiritualidade cristã pode nos ajudar amortiçar os efeitos do stress?

O ser humano é mais do que um ser bio-psíquico. Ele possui uma dimensão espiritual, portanto, possui a capacidade de transcender. Como disse Ed René: “Quem é capaz de exercitar a fé vê mais longe, voa mais alto, chega mais adiante.” Jesus foi aquele que soube passar pelas contingências da vida sem ser abalado por elas, portanto, com base no que foi ensinado por Ele em Mateus 6.6, extrair-se-á ensinamentos para amortecer os efeitos do stress sobre a nossa saúde mental, física e emocional.

Disse Jesus: “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.”

Muitas vezes, a mente está inquieta em virtude de cobranças, coisas para se fazer, contas para pagar, e isso acaba gerando ansiedade. Jesus ensina que em momentos como este, devemos orar, ou seja, “entrar na presença do Pai”. Jesus ensinou que a “carne” é fraca, mas o “espírito” é forte, isto é, a carne está sujeita as contingências dessa vida, envelhece, fica senil, enquanto que, o espírito é transcendente, ou seja, vai além dos limites bio-psíquico. Bem observou Teilhard de Chardin (apud: Stephen Covey) : "Não somos seres humanos passando por uma experiência espiritual. Somos seres espirituais passando por uma experiência humana".

Em conexão com Deus, temos a oportunidade de fazer uma releitura do mundo exterior e interior, na presença dEle temos a oportunidade de refazer estruturas psíquicas, e receber novas diretrizes existenciais. A oração nos proporciona novas percepções, novos processos, novas atitudes mentais e emocionais, possíveis tão somente na comunhão com Deus. A oração nos proporciona uma profunda experiência de presença e comunhão com o Pai. Na comunhão com Ele obtemos paz, a mesma é experimentada não quando equacionamos os fatores estressantes, mas sim, quando na experiência de comunhão com o Pai desfrutamos da sua presença.

Uma das coisas que Jesus deixa claro é que a oração abre caminhos para a intervenção de Deus. Diz Ele: “o Pai que vê em secreto, recompensa”. Portanto, a conexão com Deus nos leva para patamares que vão além da mente e da matéria, colocando-nos diante de infinitas possibilidades do mundo espiritual. Bem observou Ed René: “Quando as aflições forem demasiadamente intensas, as palavras fugirem, os sentimentos parecerem confusos, os pensamentos se multiplicarem sem parar, o corpo estiver exaurido, entre no seu quarto, feche sua porta e fique diante do Abba, que vê em secreto. Jamais despreze as oportunidades de um momento de joelhos em silêncio. Jamais descreia das recompensas que podem se derramar sobre você enquanto está num momento de conexão com o Divino”.

Os efeitos do stress serão atenuados quando aprendermos o caminho da comunhão com o Pai e fizermos da transcendência uma relação pessoal e profunda com Deus, ou nas palavras do apóstolo Pedro: “lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós.” Comunhão com o Pai implica na crença de que os recursos disponíveis para o homem exterior (carne) e para o homem interior (espírito) são sempre muito mais abrangentes do que aos nossos olhos aparentam ser.

Concluo este artigo com as palavras de Louis H. Evans: “O homem que se ajoelha diante de Deus pode resistir de pé a qualquer outra coisa.”

Pr.Fernando Gonçalves Dias

sábado, 13 de novembro de 2010

Tropa de Elite e a Corrupção Humana – O inimigo continua o mesmo

O presente artigo compreende a arte como interpretação da realidade humana, projetando os terrores, angústias e sonhos que a sociedade carrega em seu desenvolvimento. Assim, o texto que se desenvolve , tem o objetivo de introduzir uma reflexão sobre os valores humanos e os inimigos ocultos que destroem as relações humanas,  a partir da análise do filme Tropa de Elite 2 – O inimigo agora é outro, de José Padilha, comparando-o com a ética preconizada por Jesus. Portanto, algumas perguntas devem nortear as nossas mentes: Quais os possíveis inimigos que estão destruindo as relações em todas as suas dimensões? Quais os inimigos que estão destruindo as relações familiares? Quais os inimigos que estão me destruindo como pessoa e me tornando um ser humano de mente cauterizada?.

Em Tropa de Elite 2, fica evidente a corrupção do sistema abalizado pelo esquema polícia-milícia-política. Porém, podemos observar nele um retrato de nós mesmos, um espelho em que podemos refletir sobre as nossas próprias vidas, da nossa existência e da nossa história enquanto indivíduos, sujeitos e humanos. Existem alguns inimigos que vão além da máquina polícia-milícia-política e que estão adentrando em nossas casas, vidas e relações, nos destruindo e nos bestializando.

Parafraseando o jargão do filme, o “inimigo continua o mesmo”, refere-se à concepções e valores que reproduzimos. São valores e concepções muitas vezes recheados de: inveja, mentira, esperteza, malandragem, orgulho, luxúria, traição, insensatez, egoísmo, insensibilidade para com a necessidade alheia, insensibilidade para a real necessidade do cônjuge e dos filhos. Muitas vezes , aquilo que eu tenho como valor fica de lado na hora que eu “levo” vantagem. A ausência de valor, muitas vezes, fica patente na relação trabalhista na qual colegas de trabalho que passam por cima do outro por conta de uma promoção, fazem intrigas, mentem e “queimam” o colega para se darem bem ou como bem descreveu Danilo Di Manno (apud:Cátia Cilene Lima Rodrigues): “(...) Mesmo que não adote em seu íntimo os valores do sistema, deverá praticá-los, pois é constantemente vigiado: o padrão ético é o da sobrevivência do menos sensível, chamado, ideologicamente, de ‘mais forte’”.

São inimigos desumanizando-nos, tornando-nos pessoas sem valores consistentes, ou como disse o cientista social Gilberto Dumas, em seu livro: Ética e poder na Sociedade da Informação: “A incerteza é a regra; nada está sobre pés firmes e crença sólida: resta a convicção de que toda a fé, todo julgar verdadeiro é necessariamente falso. Não há nada a fazer com a verdade. Também não há nada a fazer com a moral; ela anuncia princípios éticos, mas a ação não se orienta por eles. Afirma-se o niilismo, a fé na absoluta falta de valores e de sentido”. Dumas ressalta a incerteza, a falta de crença sólida e ausência de um referencial capaz de nos proporcionar sentido e significado.

Contudo, parto da premissa de que o ser humano, é aquele que participa efetivamente da construção da sociedade, por isso, a mesma reverberá o que estamos plantando nela e dela colheremos o que estamos semeando. Muitas pessoas ficaram indignadas por conta do sistema corrupto demonstrado no filme, no entanto, muitas dessas não possuem o mesmo sentimento no que tange a mentira descabida, traição para com seu par, com a suposta vantagem que tem mesmo sabendo que não é certo, com a desigualdade vigente, fruto de um sistema que favorece uns e desfavorecem outros. Logo, as palavras proferidas pelo apóstolo Paulo se tornam verdadeiras em nossa sociedade. Diz ele: “Não há um justo, nem um sequer.”

Diante da crise de identidade do ser humano na atualidade, a pós-modernidade nos indica um novo desafio: reavaliar ou re-estabelecer os referenciais e os valores que orientam a prática da vida, visando o equilíbrio pessoal e a harmonia social por um claro motivo, a sobrevivência digna da humanidade. Para tal, necessitamos de um novo paradigma e esse modelo encontra-se na pessoa de Jesus Cristo. Quando olhamos para a mensagem de Jesus, percebemos nela qual é a vontade de Deus. A base da ética dos ensinamentos de Jesus é o senhorio de Deus gerando no ser humano uma nova visão de vida, o que Ele vai chamar de salvação. Por exemplo: Quando Zaqueu (cobrador de impostos, incapaz de sensibilizar-se com a dor e mazela do seu próximo) teve um encontro pessoal e íntimo com Jesus, ele disse: “Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado.” Então disse Jesus: “Hoje veio a salvação a esta casa...”. Lucas 19. 8 e 9.

No entanto, desde o alto escalão até nós, uma sociedade justa, igualitária e sem mazelas, apenas será possível quando inserirmos em nossas vidas os preceitos éticos de Jesus. Na ética estabelecida em nossa sociedade, o ser humano, busca descobrir caminhos concretos a fim de sentir-se vinculado pelos imperativos de sua consciência, ou seja, é uma ética baseada apenas na liberdade humana.

A ética preconizada por Cristo nos afirma que existem Leis, princípios e normas de condutas, sejam sociais, biológicas, psicológicas que nos orientam para determinada direção. No entanto, na ética ensinada e vivenciada por Jesus, o homem é totalmente dependente de Deus. Logo, os ensinos de Cristo são normativos para se viver de maneira justa, honesta e sempre visando o bem comum. Portanto, quando o ser humano rejeita os imperativos éticos de Jesus está buscando uma vida autônoma, longe da tutela do seu criador.

A mensagem de Jesus para o ser humano exige mudanças (salvação), Ele nos ensina a relativização de tudo em função do único absoluto, ou seja, Deus. Isso faz o ser humano olhar a vida com outros olhos. Logo, suas decisões são influenciadas e matizadas por essa nova perspectiva, portanto, a vida ganha conteúdo diferente.

Seguir a Jesus não significa andar preocupado com a perfeição, mas caminhar em suas pegadas, atos de amor e compaixão, fazendo da vida oferenda a Deus e ao próximo.