sexta-feira, 16 de julho de 2010

A igreja nos dias atuais – uma avaliação crítica.

O presente artigo tem como objetivo avaliar de maneira crítica a relação da igreja com a sua missão de propagar o reino de Deus e os seus valores, contrastando com os valores vigentes em nossa sociedade. Como discípulos de Cristo, fomos chamados para o grande projeto do reino de Deus. Todavia, ao olharmos para os valores da sociedade e a ação da igreja, duas perguntas emergem: (1) Quais são os valores comunicados pela sociedade?; (2) Como igreja, estamos sendo aquilo para o qual fomos chamados e enviados ou estamos sendo plasmados pelos valores da sociedade?.

É fato, que ao passar dos anos, transformações foram surgindo nos indivíduos, nas famílias e consequentemente na sociedade, porém, isso não significa necessariamente que as pessoas estejam mais humanas, felizes e solidárias. Pelo contrário, ao olharmos a nossa volta percebe-se na sociedade um misto de: individualismo, hedonismo, narcisismo, imediatismo, valorização do ter em detrimento do ser, relativismo, permissivismo, consumismo, niilismo, falta de compromisso, valorização exacerbada das emoções.

Pelas descrições da sociedade acima, o sociólogo Cláudio Antônio Cardoso Leite e o historiador Fernando Antônio Cardoso Leite chegaram à seguinte conclusão: “Qualquer evangélico, minimamente informado, perceberá que as transformações recentes que o meio evangélico tem vivenciado guardam paralelos intrigantes com os caminhos da sociedade contemporânea, como um todo.”

Ao refletirmos sobre os valores preconizados pela sociedade e como discípulos inseridos na mesma, duas coisas podem acontecer: ou influenciamos ou somos influenciados. É perceptível na atualidade que muitas igrejas estão reverberando os conceitos chamados de pós-modernos em suas vidas, o que consequentemente inviabiliza a eficácia da sua missão. Vejamos alguns dos valores ensinados na sociedade e vivenciados pela mesma, que encontram eco na igreja de Cristo:

Individualismo – Esse “eco” está cada vez mais enraizado nas comunidades evangélicas uma vez que a dor do outro não me impacta, a fome do outro não me diz respeito, a solidão da massa não é problema meu. Expressão do tipo: “(...) chorai com os que choram. Rm 12:15” está cada vez mais escassa na vida daqueles que foram chamados de “sal da terra” e “luz do mundo”.

Consumismo – Uma das coisas que o cliente não é: fiel a determinadas marcas. O consumidor busca muitas vezes preço e satisfação pessoal, por exemplo: se eu levo o produto A e amanhã o produto B está mais em conta, eu levo o produto B. Ao refletirmos sobre aqueles que frequentam as nossas igrejas e aqueles que compõem a mesma, nota-se um paralelo muito grande do consumidor de bens e serviços com aqueles que são consumidores espirituais. São pessoas que estão ali para consumir tudo que está a sua volta e se esquecem do que foi dito por Jesus: “Porque o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos”. Está se multiplicando aqueles que não querem mais ser servos, com isto, esquecem que tudo o que fazemos é para Deus e não para nós, é para agradar a Deus e não a nós. Concordo com as palavras do pastor Ed René: “A conversão já não implica transformação (...). (...) a legitimidade da conversão está vinculada à satisfação do cliente. Convertido não é aquele que se tornou nova criatura, mas aquele para quem Deus funciona, em que “funcionar” equivale a “abençoar”.”

Imediatismo – Essa característica está presente nas relações empresariais, onde o resultado tem de ser para “ontem”. Intrigante como este pensamento contemporâneo, perpassa a vida da igreja. A igreja boa e triunfante é aquela que cresce vertiginosamente em número, a pergunta de irmãos que se encontram é a seguinte: Quantos membros têm a sua igreja?. Logo, observa-se uma ênfase muito grande na quantidade sem, muitas vezes, se ater à qualidade, que deve ser fruto de corações transformados pela graça e que, uma vez transformados por essa graça, se tornam discípulos de Jesus. Diante deste fenômeno corrente nos dias atuais, Luís Augusto Corrêa Bueno faz a seguinte observação: “Ao decorrer de meus anos de ministério pastoral e atualmente como professor e diretor de uma escola de treinamento missionário, sou levado a pensar que o momento da igreja brasileira em sua geração é por demais delicado. Isso porque, vemos as igrejas locais procurando ansiosamente meios de crescimento numérico, muitas delas, sinceramente, buscando cumprir o mandato de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas que em sua caminhada, tem abandonado princípios inegociáveis da Escritura Sagrada, resultando em uma situação de “stress” espiritual para a comunidade, a diluição da fé e o enfraquecimento qualitativo e orgânico dos crentes.”
Assim, para Luís Augusto Corrêa Bueno, a igreja tem abandonado princípios inalienáveis da Escritura Sagrada para poder crescer sem se ater também na qualidade. Isso, consequentemente, concorre para um enfraquecimento na qualidade e na espiritualidade.

Emocionalismo – Neste modelo o que chama a atenção é o fato de que se procura uma série de sensações novas e excitantes. Nas igrejas, muitas vezes o que caracteriza se o culto foi “bom” ou não, são as sensações novas que o mesmo produz naqueles que se dizem discípulos e quantos choros ele produziu nas pessoas (não quero dizer com isto que você não pode se emocionar na presença de Deus, o foco não é este). O que está inserido no emocionalismo é o prazer e a satisfação que o mesmo me propicia. Logo, intimidade com Deus está resumida a sensações emotivas. No entanto, quando a ênfase recai no emocional, este modelo cria pessoas imaturas espiritualmente que não conseguem entender, por exemplo, que as dificuldades fazem parte da vida. São pessoas que não “aceitam” passar por determinadas situações e logo ficam frustradas com Deus tendo em vista a sua imaturidade. Em relação a este aspecto, assim ponderou o pastor Ed René: “A experiência espiritual moderna, ou pós-moderna, como preferem alguns, é na verdade, medieval. Primeiro porque vê Deus como um meio e não como um fim em si mesmo. Deus passou a estar a serviço do fiel, responsável por realizar seus desejos, sob pena de ser abandonado e considerado um Deus ausente, distante, omisso e lento demais para suprir as demandas dos desafios da vida.”

Quando a igreja vive de maneira acrítica aos valores mencionados acima, ela se corrompe e passa a viver conforme os ditames da mesma. Se quisermos que a igreja seja relevante e atuante, precisamos viver como “sal” e “luz”. Hoje, mais do que nunca, as palavras do apóstolo Paulo se fazem necessárias: “E não vos conformeis com este século....”.
Como igreja que expande o reino de Deus, precisamos contextualizar a mensagem deixada por Cristo, porém, sem se contemporizar.
Pr. Fernando G. Dias

7 comentários:

Anônimo disse...

Querido Pastor Fernando
O texto postado mostra um retrato claro de nossos dias. O egoismo humano é imenso e leva os seres a buscarem a satisfação em si mesmos. Muitas vezes não há preocupação com o próximo ou com o nosso papel real neste mundo. Precisamos nos conscientizar que esse mal se volta contra nós mesmos, motivo pelo qual encontramos tantas pessoas tristes e tantas vidas sem nenhum propósito. Faz-se necessário reflexões como esta para que possamos nos reencontrar com nossa essência. Um carinhoso abraço
Cris

Anônimo disse...

Adorei a reflexão.

A pergunta que fica é : se conseguimos identificar os erros da igreja como podemos na pratica reverter isso em nossa sociedade ?

Mauro Jefferson

Anônimo disse...

Ficou otimo meu irmão...

Continue assim....

Do seu amigo: Marcelo Pontes

Unknown disse...

Gostei tb...
É a base do sermão de domingo.

Deus dá o cescimento... e assim veremos o seu ministério crescer... não depende sde suas próprias forças...

digo amém para o q escreveu...

Anônimo disse...

Excelente texto!

Sabe porque isso vem acontecendo?! Porque a chamada igreja moderna avança fora dos rumos da igreja histórica, longe da doutrina dos Apóstolos. Sim, é isso q vemos mesmo!
Então o que ocorre? o imediatismo, consumismo e individualismo vem com força total!

O que fazer? (já respondendo ao artigo e ao Jefferson – rsrs...): os pastores precisam usar mais seus púlpitos para pregar a Sã Doutrina e fazer com que o povo rume, de volta, para tudo aquilo que ela foi realmente chamada! Chega de modismos e experiências estranhas às Escrituras nos púlpitos (principalmente nos púlpitos reformados).

A paz de Cristo a todos.
Robson Dias
(2ª IPB Anchieta - RJ)

Anônimo disse...

Quanto ao Blog, acho que não há o que discutir, tudo que diz, é, ao meu ver, o que exatamente tem acontecido nos dias de hoje. Agora, como IGREJA, no geral, temos sido plasmados sim. A grande maioria nao busca o novo nascimento, o crescimento espiritual.
Penso, que no trabalho, com todos os meios de comunicãçao, os amigos e a sociedade em geral tem um grande poder para levar o cristão, que nao busca o alimento para a alma, a intimidade com Deus, a cair ou até mesmo a permanecer de pé, mas capengando. Precisamos orar por nós e por aqueles que nao querem ou nao conseguem enxergar isso.

Que Deus abençoe voce e sua Familia.

Gostei muito do blog.

Solange

Luiz Bueno disse...

Querido amigo, feliz por ler seu blog. Serei seu seguidor. abraço
Luiz Augusto, Recife