segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Em que “Deus” os brasileiros acreditam?

O presente artigo tem como escopo avaliar a percepção humana de como Deus é, e com isto, trazer a baila como algumas pessoas estão imaginando e vivenciando este “Deus”. No entanto, para elucidar de maneira mais clara a nossa percepção de Deus, usarei como guia aquele que pode discorrer sobre Ele como nenhum outro é capaz, a saber: Jesus Cristo. Ele é o único que pode nos dizer se a nossa percepção acerca de Deus está correta.

A Revista Veja (nº 50, 19/12/2001) publicou uma matéria sobre a espiritualidade do povo brasileiro, fazendo o seguinte destaque: Um Povo que acredita. A Revista encomendou uma pesquisa ao instituto Vox Populi, onde as pessoas deveriam responder algumas perguntas, dentre as quais, encontrava-se a seguinte: Você acredita em Deus?. Noventa e nove por cento dos entrevistados disseram que sim.

Contudo, ao observar nossa sociedade e notar tanta desigualdade, mendicância, latrocínio, mentira, prostituição, descaso dos políticos, precariedade nos hospitais públicos, precariedade na educação, vazios existenciais, depressão crescendo de maneira alarmante, famílias que não se toleram, pais matando filhos, filhos matando seus pais e toda sorte de atrocidade, algumas perguntas surgem: (1) A crença em Deus tem tornado o ser humano melhor?; (2) As pessoas estão mais humanas a partir dessa crença?; (3) A crença em Deus tem refletido melhoria nos relacionamentos?; (4) A falta de sentido existencial, está sendo preenchida por causa dessa crença?

O que eu acredito me direciona, me conduz e me indica o caminho que eu percorro ou vou percorrer, logo, o “Deus” que for cunhado pela minha percepção conduzirá a minha vida. Creio que muitas pessoas, responderam sim a pergunta da pesquisa crendo no seguinte “Deus”:

O “Deus” permissivo – este é o tipo de “Deus” que respalda as minhas atrocidades, as minhas safadezas, as minhas mentiras descabidas, as minhas puladas de cerca, e por esse “Deus” eu vivo e sou direcionado.

O “Deus” amor – este tipo de “Deus” é aquele onde eu posso fazer todas as coisas e no final de tudo, sairei ileso sem ter que arcar com as consequências dos meus atos, afinal de contas, ele é amor. Esse “Deus” é desprovido de justiça.

O “Deus” contemplação – este é aquele que tem mais o que fazer, e por isso apenas observa o meu caminhar. Não têm tempo para ouvir minhas queixas, meus anseios, minhas indagações existenciais. É um “Deus” distante da minha realidade, ele está “lá” e não “aqui”, logo, ele é apenas transcendente e não imanente.

O “Deus” barganha – esse é aquele que só me abençoa se eu tiver algo para lhe oferecer. Para me relacionar com este “Deus”, eu tenho que: subir a escadaria da penha, tomar banho de sal grosso, pagar promessa. Ainda assim, posso não ser ouvido. Esse “Deus” é desprovido de graça, é melindroso e sem compaixão. Fica irado se eu não tiver nada para lhe oferecer e, por conta disso, não me abençoa.

Toda tentativa humana de querer “definir” Deus a partir da razão, falhará. Ele é o Deus abscôndito, ou seja, que está escondido, ou nas palavras de Karl Barth “o completamente outro”. Portanto, ou Deus se revela, ou jamais perceberemos de fato quem Ele é. Ou Ele se mostra, ou ficaremos elucubrando sobre Ele. Quanto à questão da revelação Alister E. McGrath disse o seguinte: “A noção de revelação coloca um desafio direto à autonomia humana. Afirma que os seres humanos são perfeitamente capazes de construir suas ideias sobre Deus – mas que essas ideias requerem ser suplementadas, desafiadas e corrigidas à luz do que Deus realmente é. Afirmar a prioridade da revelação é, em última análise, afirmar que Deus é a autoridade suprema sobre Deus [...].”

Deus pode ser percebido por intermédio das coisas criadas, como bem descreveu o salmista: “O céu anuncia a glória de Deus e nos mostra aquilo que as suas mãos fizeram”. No entanto, essa revelação é incompleta para se obter um conhecimento mais acurado de Deus. Ele se mostra de maneira clara e límpida na vida e obra de Jesus Cristo, ou nas palavras de Paulo: “Jesus [...] é a revelação visível do Deus invisível...” e seguindo na mesma direção, o autor da carta aos Hebreus disse que Jesus é: “... a expressão exata do ser de Deus.” Portanto, Jesus é a personificação e a auto-revelação de Deus. Ele é o único na história que disse com toda autoridade “eu e o pai somos um (João 10:30)”, “...Quem me vê vê também o Pai (João 14:9)”, “ninguém sabe quem é o Pai, a não ser o Filho e também aqueles a quem o Filho quiser mostrar quem o Pai é. (Lucas 10.22).

Em Jesus, Deus tem um rosto. Como bem descreve Caio Fábio: “Jesus [...] é Deus com cara e carne de homem, é homem com natureza e coração de Deus.”

Em Jesus, Deus demonstra sentimento, chora, fica alegre, sente fome, solidariza com a dor e a miséria humana, é imanente, é gracioso, é todo amor, mas também é todo justiça, tem caráter, é moral, é verdadeiro e abomina a mentira, abençoa independente de quem seja, não aceita barganha, dá liberdade ao ser humano, porém, cobra dele responsabilidade pelos seus atos, ressignifica a peregrinação humana enchendo-a de sentido e propósito, denuncia a injustiça, rechaça a soberba, exalta os humildes. Nele, Deus ganha concretude deixando de ser o Deus de “lá”, tornando-se o Emanuel, ou seja, Deus conosco.

Eu não sei em que “Deus” você crê. Mas eu creio no Deus que se revela em Jesus de Nazaré. Em Jesus, minha vida é direcionada, guiada e modificada através da comunhão. NEle minha vida ganha sentido, significado e propósito. Não deixo a vida me levar, como ressalta a música do Zeca Pagodinho, pois sou levado pelo autor da vida e conduzido “às águas tranqüilas.”

Esse é o Deus que eu acredito, e você? 

Pr. Fernando G. Dias

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