quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Se Deus “morreu”, o ser humano também


Desde a idade média até os dias atuais, muitas mudanças ocorreram nas civilizações e algumas dessas mudanças trouxeram benefícios para o ser humano pós-moderno, outras nem tanto. Dentre as mudanças ocorridas no ser humano, gostaria de destacar a mudança de referencial, isto é, de Deus para o homem. Simultaneamente, essa mudança, alterou a sua visão de certo e errado, moral e imoral, verdade e mentira. Diante desta nova realidade algumas perguntas emergem: O ser humano pós-moderno está mais feliz?; Ao fazer uso somente da razão para alcançar respostas acerca da vida e os mistérios que a cercam, o resultado tem sido satisfatório?; Ao utilizar a razão como referencial o ser humano está conseguindo saciar a sua peregrinação existencial?.

Na idade média, no topo da “hierarquia” estava Deus e como representante dEle encontrava-se a Igreja Católica Apostólica Romana, logo, o que ela proferia era acolhido como verdade absoluta e assim a sociedade era construída a partir dos paradigmas religiosos. No entanto, homens como Copérnico, Kepler e Galileu colocaram em xeque a representatividade da Igreja quando questionaram algumas teorias que a mesma havia estabelecido como veraz. Por exemplo: A Igreja dizia que a terra era plana e que o sol girava em torno da Terra, e estes homens provaram pelo método científico que a Igreja estava errada e a partir desta descoberta as pessoas começaram a questionar a Igreja, ou seja, se ela errou acerca do universo, sobre mais o que ela poderia estar errada.

A partir deste momento ocorre uma ruptura e um novo paradigma emerge na sociedade conhecido como – Modernidade. Nesse novo modelo, quem dá as cartas é a ciência e consequentemente Deus não é mais “necessário” em virtude do desenvolvimento científico. Neste período, houve uma virada “antropológica”, ou seja, agora não é mais Deus quem está no centro estabelecendo a verdade e sim o homem mediante a razão ou nas palavras do filósofo sofista Protágoras: “O homem é a medida de todas as coisas...”.

Pensava-se que, com as descobertas estabelecidas pela ciência, o ser humano seria mais feliz e realizado em todas as áreas, como bem descreveu Stanley J. Grenz: “os arquitetos da modernidade procuraram projetar uma sociedade humana perfeita em que a paz, a justiça e o amor reinariam”. Porém, não foi muito bem isso que ocorreu, ou, nas palavras do economista Eduardo Giannetti: “Entre as crenças que povoavam a imaginação e a visão de futuro iluminista, uma em particular revelou-se problemática: a noção de que os avanços da ciência, da técnica e da razão [...] atenderiam aos anseios de felicidade, bem-estar subjetivo e realização existencial dos homens. Sob este aspecto, seria difícil sustentar que o presente esteja à altura do amanhã prometido de ontem.”

O ser humano moderno, ao ver fracassar o projeto doravente prometido pela ciência, inaugura uma nova era denominada de Pós-Modernismo ou Modernidade tardia para alguns. Neste novo modo de pensar, não haveria mais espaço para Deus e nem para a ciência. A esperança fora substituída pela desesperança. Algumas marcas dessa nova alvorada de se viver a vida são: Não existe verdade absoluta, logo, tudo é relativo; cada um constrói a sua verdade; tolerância para com as diferenças. Não existe um centro unificador como existia na idade média e na modernidade.

Em face das mudanças ocorridas desde a idade média até a pós-modernidade, cabe bem a análise feita pelo filósofo Nicola Abbagnano: “Cada época vive de uma tradição e de uma herança cultural das quais fazem parte os valores fundamentais que inspiram as suas atitudes.”

Apesar de ter ocorrido mudanças na maneira de pensar das pessoas de um período para o outro, contudo, creio que o ser humano pós-moderno trouxe como herança do Iluminismo e da Renascença a tentativa de se vivenciar a razão como aferidor de todas as coisas. A mulher e o homem pós-moderno ainda continuam no centro, fazendo uso da razão para discernir o que é certo e o que é errado, verdade e mentira, moral e imoral. Por exemplo: matar alguém que cometeu um assassinato é errado dependendo do que o assassino fez; mentir é incorreto depende da visão de cada um.

Ao deixar de lado Deus, ou como proferiu Friedrich Nietzsche “Deus está morto” e substituí-lo pela razão humana, o ser humano também morreu. A centralização na razão humana e na sua essência não pode e nem poderia trazer valores inabaláveis. Ao banir Deus da sua história, o ser humano renegou aquele que dá sentido a mesma, pois Ele é o seu criador. Ao tornar-se lei para si mesmo e abrir mão da direção de Deus para a sua vida, acontece o que foi ensinado de maneira assertiva pelo apóstolo Paulo a Timóteo: “Lembre disto: nos últimos dias haverá tempos difíceis. Pois muitos serão egoístas, avarentos, orgulhosos, vaidosos, xingadores, ingratos, desobedientes aos seus pais [...]. Não terão amor pelos outros e serão duros, caluniadores, incapazes de se controlarem, violentos e inimigos do bem. Serão traidores, atrevidos e cheios de orgulho. Amarão mais os prazeres do que a Deus [...].1ª Timóteo 3. 1-4 ”

As palavras proferidas por Paulo é exatamente o que ocorre nos dias atuais e tal constatação levou o historiador francês George Duby a seguinte observação: “Houve modificações materiais, mas as condições morais não mudaram. Os indivíduos continuam selvagens e cruéis.” e C. S. Lewis diz o seguinte acerca da tentativa humana de querer bastar-se a si mesmo: “Dessa tentativa, que não pode dar certo, vem quase tudo o que chamamos de história humana: o dinheiro, a miséria, a ambição, a guerra, a prostituição, as classes, os impérios, a escravidão - a longa e terrível história da tentativa do homem de descobrir a felicidade em outra coisa que não Deus.”

Concluindo este artigo, farei uso das palavras de C. S. Lewis “[...] Deus nos criou como um homem inventa uma máquina. Um carro é feito para ser movido a gasolina. Deus concebeu a máquina humana para ser movida por ele mesmo. O próprio Deus é o combustível que nosso espírito deve queimar, ou o alimento do qual deve se alimentar. Não existe outro combustível, outro alimento. [...]Deus não pode nos dar uma paz e uma felicidade distintas dele mesmo, porque fora dele elas não se encontram. Tal coisa não existe.”

As expressões “queimar o combustível” e “o alimento do qual se deve alimentar” significa que devemos viver de acordo com os ditames de Deus, no entanto, se Deus “morreu”, o ser humano também. 

O que você pensa sobre este assunto? Qual a sua opinião?

Pr. Fernando G. Dias




Um comentário:

Anônimo disse...

parabéeeeeeeens cara!!! qnta riqueza de sabedoria! mto bom mesmo =D